domingo, 29 de junho de 2014

Para ler e refletir

Texto de Guilherme Krueger.

O mais renomado sindicalista de nossa história um dia disse que era preciso coragem para entrar em greve e muito mais coragem para sair dela. Desde que pais, mães e cuidadores começaram a expressar coletivamente sua insatisfação com mais uma greve no CPII, o sindicato está perdendo a oportunidade de sair da greve dizendo que é por consideração aos pais e cuidadores e no interesse dos alunos. Poderia reunir em torno de si a comunidade do CPII num consenso possível, mas que se torna cada vez mais improvável. A tal estória de um passo atrás para dar dois à frente. Mas, o sindicato parece dirigido por teimosos.


Uma greve é sempre muito desgastante. Imagina três em quatro anos! É preciso uma overdose de ideologia para aturar isso. Mas, não se pode culpar ninguém hoje em dia por recusar essa dose. Nem é preciso ler Lyotard (o cara que conceituou a condição pós-moderna) para entender a desconfiança.


Professores e servidores públicos do CPII são profissionais. É um dever profissional lidar com polidez, saber ouvir e interpretar a insatisfação dos pais, quando falam no interesse dos filhos. A relação profissional é uma relação assimétrica. Como assimétrica é a relação de professores protestando na rua e policiais militares da tropa de choque (e não reclamamos de despreparo deles? Então...) Não é o caso de exigir dos pais que aceitem com facilidade e sempre que professores abandonem a sala de aula durante o ano letivo.


Nunca é demais frisar neste espaço: não está em jogo a justiça das causas que levam à mobilização da comunidade escolar do CPII pela melhoria das condições de ensino. E nem é preciso ler Timothy Clark (Por uma esquerda sem futuro), mas a leitura ajuda: não é preciso abrir mão dos ideais que nos convocam ao que consideramos um bom combate.


Como pai de um aluno do CPII; eu, que participei de greve na UFRJ quando elas eram proibidas pela Lei de Segurança Nacional, o que digo? O encastelamento ideológico no sindicato é eutanásia do orgulho de ter um filho estudando no CPII. Agora é hora de reencontrar pais e professores, não só os que estão batendo panelas. Sobretudo os silenciosos. Boas idéias brotam do silêncio. São precisas uma outra linguagem, uma outra mobilização, outras estratégias. Ah, Professor Agenor Miranda Rocha, Pai Agenor, não só suas aulas de matemática, ou sua poesia até traduzida no estrangeiro, mas sobretudo você, que sendo sacerdote do candomblé, soube se fazer ouvido no Vaticano pelo Papa canonizado Santo João Paulo II, estão fazendo falta no CPII!
E eu pergunto ao sindicato: não está mais do que na hora de se reinventar? Bom senso, por favor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário