domingo, 8 de junho de 2014

Ponto de vista

Resposta de uma mãe ao questionamento de uma aluna sobre a postura de pais do Humaitá. Este texto foi postado no grupo de discussão do Facebook e reproduzido aqui com autorização da mãe. A Comissão de Mães, Pais e Responsáveis do CPII Humaitá considera que este ponto de vista representa bem sua posição.


"Raramente passeio pelo FB e mais raramente ainda, escrevo. Há que se tomar cuidado com as palavras escritas, sem o olho no olho. Mas, fiquei com vontade.

Começo dizendo que acredito que o Colégio Pedro II é uma escola que oferece, com seus problemas aqui e ali, o que procuro para os meus filhos. Apesar de discordar frontalmente da opinião de vocês neste momento, as colocações que fazem aqui, reforçam a minha crença nesta escola, que forma cidadãos críticos, que sabem se expressar, com consciência política, sensibilidade social e tantos outros atributos.


A fala dos pais não será necessariamente a de vocês. Estamos em posições distintas, embora busquemos as mesmas coisas. Olhamos de lugares diferentes. Tampouco a fala de todos os pais representam a minha fala. Há aquelas que eu acho deliciosas, outras questionáveis e há ainda aquelas que me incomodam. Este é um movimento plural. O que nos une, com vários dizeres, é o desejo de mudança, de mudança de paradigma.


Conheço e reconheço a importância de movimentos grevistas na construção da democracia do país, na consolidação das leis trabalhistas e nas conquistas para a educação. Mas conheço também os prejuízos que eles carregam consigo, particularmente quando se dirigem à educação.


Entendendo que o contexto social e político é outro, que a sociedade está mais madura, que as famílias estão mais conscientes, que o poder de articulação entre as pessoas, entre os segmentos, é muito maior, não poderíamos apostar em outros movimentos, com maior integração? Seria conservadora ou de vanguarda esta nova tentativa? É preciso registrar que procuramos o sindicato antes da deflagração da presente greve propondo a abertura de um diálogo. Haveria explicação razoável para a ausência de resposta por parte daqueles que defendem em suas falas um debate democrático?


Uma coisa talvez precise ser melhor observada por vocês. Há, é verdade, alunos que pouco se ressentem com a interrupção das aulas em meio ao ano letivo, mas há os que, pelo contrário, muito se ressentem. Colecionamos vários relatos. Dentre estes, os que precisariam de um reforço, há os que podem e os que não podem pagar por ele. Há, portanto, um caráter perverso e elitista neste processo.


Quanto à afirmações de que os alunos muito aprendem com a greve, há também que se lembrar que, quando muito, esta fala se aplica aos alunos do EM que porventura se identificam com as propostas do sindicato. E os outros? E os quase 7.000 alunos do EF?


Embora eu discorde, compreendo o contexto e as razões daqueles alunos que apoiam os movimentos grevistas. Há, entretanto, um ponto, que foge à minha compreensão. Como os alunos estão de acordo com o sindicato quando este suspende as aulas das Terceiras Séries do EM? Em que momento serão repostas? Não causam prejuízos irreparáveis? Esta postura não atinge profundamente alunos de baixa renda?


Espero que em algum momento, no futuro, superemos todos, alunos, professores, pais, técnicos e sindicato, as divergências de agora para construir juntos um movimento muito maior, em defesa da educação pública de qualidade e para todos. Como disse Maria do Pilar ao defender a volta da classe média para a escola pública em recente entrevista "a escola pública é um espaço radicalmente democrático". É por este espaço que lutamos.


Com meu profundo carinho e orgulho, Maria Fernanda"

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