Texto de Vanessa Anacleto, endereçado a todos aqueles que contribuíram para a deliberação de mais uma paralisação de atividades no Colégio Pedro II, marcada para 17/11/2015, lido na reunião do Consup do dia 11 de novembro de 2015*
Vivemos
um período de crise. Crise econômica, segundo alguns, política, segundo
outros. Há quem defenda ainda a existência de uma crise do princípio de
legalidade e crise de autoridade. A crise moral e ética contudo ,
parece ser a mãe de todas as outras .
Neste
contexto, a sociedade exige cada vez mais dos governantes
comprometimento com a coisa pública e se ressente quando verifica
estarem extrapolados os limites da sua atuação. Sempre que verificamos
que o Governo possa ter se valido de subterfúgios para ir contra a
vontade da maioria que o elegeu, nos sentimos atingidos. Os servidores
desta instituição cobram do nosso Governo atual , uma postura
comprometida com a qualidade de educação e os princípios de legalidade,
nem sempre sendo atendidos. Mas, como poderiam? Vivemos tempos de crise .
Durante
todo o ano letivo de 2015, as famílias acompanharam os embates entre
aqueles que desejavam uma greve geral no Colégio Pedro II e um Governo
Federal enfraquecido e incapaz de movimentar-se no cenário político. A
tese de greve geral foi derrotada e restaram os dias de paralisação
geral nos campi que, somados a outros dias em que alguns campi
necessitaram paralisar por questões de estrutura, descumpriram o
calendário aprovado no início do ano letivo.
Legitimamente,
(mas de que vale a lei em tempos de crise de legalidade?) as famílias
vieram a este Conselho bem mais de uma vez requerendo a reposição dos
dias parados, sem corte de ponto ou qualquer sanção, mas não obtiveram a
devida atenção até o mês de outubro . A ação do Ministério Público foi,
neste mesmo Conselho, tratada como incapaz de dar início a um debate
legitimo pois, segundo foi dito, O MP não julga nada e assim sendo nada
pode cobrar. ( mas quem pode reclamar de tal fala posto que o MP nada
mais é que fiscal da lei e a lei em nossos tempos pouco ou nada vale?)
Finalmente,
em outubro, a necessidade de reposição foi reconhecida pelo Conselho
Superior e foi dado início à elaboração de um novo calendário para 2015.
Em grau de recurso , apresentando sem qualquer argumento novo ou
superveniente, o Sindscope, tentou ver aberta a discussão da reposição
por entender que havia intenção de punir os servidores paralisados com o
novo calendário. A tese do recurso foi derrotada, no dia 5/11, mas isso
não parece significar muita coisa em tempos de crise de valores.
Segundo
o Sindscope os servidores é que podem dizer se houve ou não perda
pedagógica, assim como eles podem decidir se param ou não param. Segundo
as famílias existe uma perda pedagógica que se arrasta por reiteradas
greves. Os servidores vigiam a si mesmos e a nós, as famílias nada mais
resta que , segundo dizem, confiar. Seguimos confiando mas, quem vigia o
vigilante? Deveria ser a garantia legal de um calendário mínimo, mas a
lei já não parece valer mais. Deveria ser o calendário aprovado por este
conselho. Mas este Conselho carece de autoridade. Se daqui em diante
todas as decisões do Consup forem igualmente rasgadas, não poderemos
reclamar.
A
autoridade do Consup que vi representantes de técnicos e professores
defenderem tão bravamente em matérias de interesse de seus pares durante
o ano de 2015, agora é desrespeitada pelos mesmos segmentos e o pedido
das famílias de cumprimento de um formato de calendário aprovado pelo
próprio Conselho de nada vale ( Com poderia valer se a crise é de
valores ? ) E quando os servidores da área de educação, aqueles que deveriam apontar o
caminho, se negam até mesmo a caminhar, estamos mesmo perdidos. Não se
nega o direito da luta por uma educação de qualidade e por isso
respeita-se o direito de greve. Pelo mesmo motivo, pede-se o respeito ao
direito às aulas.
Diante
da realidade da convocação de uma nova paralisação para o dia 17/11 às
vésperas das provas e que já rasga o calendário aprovado há 6 dias
atrás, reconheço a aparente vitória daqueles que se colocam em uma queda de
braço com as famílias. Sim, esta conselheira reconhece, os senhores são aparentemente
mais fortes, reconheço que nada podemos fazer mesmo quando uma
paralisação é deliberada sem ao menos constar da pauta da assembleia,
reconheço que nada podemos fazer mesmo quando o Conselho Superior
decidiu o contrário pois estamos em uma profunda crise que nos coloca
nesta estranha situação onde servidores decidem parar não por alguma
reivindicação contra o governo federal que nos usurpa qualidade da
educação mas simplesmente porque não desejam trabalhar e sendo a
reivindicação e a paralisação dirigidas diretamente às famílias em firme
tom de retaliação. O recado moral é bastante claro : as regras só servem
para os outros.
*Vanessa Anacleto é representante do segmento de pais no Conselho Superior do Colégio Pedro II
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